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A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou... - 1 views

Problem-Based Learning PBL
started by rubiobessa on 27 Jun 14 no follow-up yet
  • rubiobessa
     
    Fevereiro, 1998 139
    1 Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Londrina /PR.
    A problematização
    e a aprendizagem baseada
    em problemas:
    diferentes termos ou diferentes caminhos?
    Neusi Aparecida Navas Berbel1
    BERBEL, N. N.: "Problematization" and Problem-Based Learning: different words or different ways? Interface -
    Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n.2, 1998.
    Two important new proposals are described and analyzed: Methodology of Problematization and Problem-Based
    Learning. The two proposals, which develop from distinct theories, have common and divergent points.
    However, according to both proposals, teaching and learning develop from problems. According to Methodology
    of Problematization, the students are led to identify the problems from a certain reality, while according to
    Problem-Based Learning, the problems are formulated by specialists, so that they involve all the disciplines
    which compose a certain curriculum. Although these two proposals are different, they provide the students with
    new opportunities to learn.
    Keywords : Problem-Based Learning; Teaching.
    Duas importantes propostas inovadoras são objeto de descrição e análise comparativa: a Metodologia da
    Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas. As duas propostas, que se desenvolvem a partir de
    visões teóricas distintas, têm pontos comuns e pontos diferentes. Nas duas propostas, o ensino e a
    aprendizagem ocorrem a partir de problemas. Na Metodologia da Problematização, enquanto alternativa de
    metodologia de ensino, os problemas são extraídos da realidade pela observação realizada pelos alunos. Na
    Aprendizagem Baseada em Problemas, enquanto proposta curricular, os problemas de ensino são elaborados por
    uma equipe de especialistas para cobrir todos os conhecimentos essenciais do currículo. O conhecimento de suas
    características não permite confundi-las, mas, com certeza, tomá-las como alternativas inspiradoras de um
    ensino inovador que ultrapasse a abordagem tradicional.
    Palavras-Chave : Aprendizado Baseado em Problemas; Ensino.
    140 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    Introdução
    Algumas escolas que preparam profissionais para a área da saúde têm
    surpreendido a comunidade interna e externa com inovações importantes na
    maneira de pensar, organizar e desenvolver seus cursos.
    Inspirados em exemplos de experiências de mais de 30 anos, realizadas no
    Canadá ( em MacMaster) e na Holanda (em Maastricht) principalmente, e
    também por recomendação das Sociedades das Escolas Médicas para países da
    África, Ásia e América Latina, várias escolas de Medicina no Brasil vêm buscando
    adotar a Aprendizagem Baseada em Problemas ( Problem Based Learning - PBL )
    em seus currículos.
    Paralelamente, cursos de Enfermagem nos Estados do Rio de Janeiro, Minas
    Gerais, São Paulo e Paraná têm realizado importante movimento de incorporação
    da Problematização em suas atividades curriculares normais e especiais. Tais
    práticas (com a Problematização) já vêm sendo utilizadas por quase duas décadas
    na preparação de Auxiliares de Enfermagem em serviço ou não, em Minas Gerais
    e Rio de Janeiro.
    Na Universidade Estadual de Londrina - PR, há seis anos desenvolvem-se um
    projeto especial de ensino, na área da saúde, através da Problematização, tendo
    como referência o Método do Arco, de Charlez Maguerez (apud Bordenave, 1982).
    Tais inovações têm tido repercussões importantes. Tanto as positivas, por
    suas características, pressupostos e conseqüências diferenciadas, provocadas pelo
    discurso e pela prática daqueles que passam a apreciar as novas maneiras de
    ensinar e de aprender, quanto as negativas, provocadas pelas resistências
    naturais às mudanças e também por aqueles que, apressados, fazem pequenas
    adaptações em suas práticas tradicionais (e então os resultados em geral não são
    os esperados) e passam a denominá-las inconvenientemente com os termos que
    aqui estamos considerando para análise e discussão - Aprendizagem Baseada em
    Problemas e Problematização.
    Desejosos de disseminar tais práticas educativas para ampliá-las no ensino,
    enquanto propostas ou experiências, muitos são os que escrevem ou comentam
    sobre elas. Observamos uma variedade muito grande de termos com os quais são
    designadas, como por exemplo, técnica de ensino, método de ensino,
    metodologia, pedagogia, proposta pedagógica, proposta curricular, estratégia de
    ensino, currículo PBL, procedimento metodológico etc.
    Fevereiro, 1998 141
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    Ainda observamos os que anunciam uma destas propostas com o nome da
    outra, considerando que se trata do mesmo assunto ou aqueles que julgam que o
    exercitar de uma das propostas é condição suficiente de preparo para a adoção
    da outra.
    Tais constatações constituíram o desafio para a elaboração deste texto, com
    o qual pretendemos caracterizar a Problematização e a Aprendizagem Baseada
    em Problemas, para podermos, junto com o leitor, responder à questão do título
    que o anuncia: a Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas são
    diferentes termos ou diferentes caminhos?
    Empenhar-nos-emos em defender a tese de que são diferentes caminhos.
    Para provar essa tese, buscaremos destacar os pontos em que se aproximam e
    os pontos em que se diferenciam as duas propostas.
    Enquanto isso, vamos expondo ao leitor o nosso entendimento até o
    momento e que nos permite uma designação diferente para as duas propostas: a
    primeira - como Metodologia da Problematização e a segunda - provisoriamente
    como Proposta Curricular de Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) pela
    observação de como vem sendo adotada em escolas de Medicina da UNESPBotucatu,
    na FAMEMA-Marília, na UEL-Londrina, entre outras instituições do país.
    Entendemos que a necessidade desta comunicação, que não pretende ser
    conclusiva mas provocativa, ocorre porque as duas propostas aqui consideradas
    trabalham intencionalmente com problemas para o desenvolvimento dos
    processos de ensinar e aprender. Esse fato facilita uma conclusão apressada ou
    equivocada por aqueles que ainda têm poucas informações sobre as duas
    propostas e as vêem superficialmente defendidas/explicadas por profissionais
    da saúde e mesmo da educação.
    A Metodologia da Problematização: algumas características.
    Vamos iniciar caracterizando a Metodologia da Problematização, conforme
    vimos formulando teórica e praticamente, nos últimos seis anos.
    A primeira referência para essa Metodologia é o Método do Arco, de Charles
    Maguerez, do qual conhecemos o esquema apresentado por Bordenave e Pereira
    (1982). Nesse esquema constam cinco etapas que se desenvolvem a partir da
    realidade ou um recorte da realidade: Observação da Realidade; Pontos-Chave;
    142 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    Teorização; Hipóteses de Solução e Aplicação à Realidade (prática). De seu autor
    e do próprio esquema de Bordenave e Pereira não se obteve mais informações, o
    que nos estimulou a buscar um entendimento mais profundo para poder utilizálo
    amplamente.
    Temos proposto a Metodologia da Problematização como metodologia de
    ensino, de estudo e de trabalho, para ser utilizada sempre que seja oportuno, em
    situações em que os temas estejam relacionados com a vida em sociedade.
    Embora saibamos de sua utilização para cursos como um todo, principalmente
    quando diretamente relacionado com a prestação de serviços à comunidade,
    como é o caso da formação de Auxiliares de Enfermagem e de cursos para
    Gerentes de Enfermagem (como aconteceu na UEL em 1995), temos proposto a
    Metodologia da Problematização como uma alternativa metodológica apropriada
    para o Ensino Superior.
    Estamos conscientes de que nem sempre é a alternativa mais adequada para
    certos temas de um programa de ensino. Não pensamos ensinar o uso de crase
    através da Problematização, nem a tradução de palavras do português para
    outra língua, ou o cálculo de certas expressões matemáticas... O que de social,
    ético, econômico ou político estaria aí implicado? Há certamente temas que serão
    mais bem aprendidos com uma ou mais alternativas metodológicas da imensa
    lista à nossa disposição na literatura pedagógica.
    Então, quando oportuna, a Metodologia da Problematização pode ser
    desenvolvida como segue.
    A primeira etapa é a Observação da Realidade social, concreta, pelos alunos, a
    partir de um tema ou unidade de estudo. Os alunos são orientados pelo
    professor a olhar atentamente e registrar sistematizadamente o que perceberem
    sobre a parcela da realidade em que aquele tema está sendo vivido ou
    acontecendo, podendo para isso serem dirigidos por questões gerais que ajudem
    a focalizar e não fugir do tema.
    Tal observação permitirá aos alunos identificar dificuldades, carências,
    discrepâncias, de várias ordens, que serão transformadas em problemas, ou seja,
    serão problematizadas. Poderá ser eleito um desses problemas para todo o grupo
    estudar ou então vários deles, distribuídos um para cada pequeno grupo.
    As discussões entre os componentes do grupo e com o professor ajudarão na
    redação do problema, como uma síntese desta etapa e que passará a ser a
    referência para todas as outras etapas do estudo.
    Fevereiro, 1998 143
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    Para realizar as atividades da segunda etapa que é a dos Pontos-Chaves, os
    alunos são levados a refletir primeiramente sobre as possíveis causas da
    existência do problema em estudo. Por que será que esse problema existe?
    Neste momento os alunos, com as informações que dispõem, passam a
    perceber que os problemas de ordem social (os da educação, da atenção à saúde,
    da cultura, das relações sociais etc.) são complexos e geralmente
    multideterminados. Continuando as reflexões, deverão se perguntar sobre os
    possíveis determinantes maiores do problema, que abrangem as próprias causas
    já identificadas. Agora, os alunos percebem que existem variáveis menos diretas,
    menos evidentes, mais distantes, mas que interferem na existência daquele
    problema em estudo.
    Tal complexidade sugere um estudo mais atento, mais criterioso, mais crítico
    e mais abrangente do problema, em busca de sua solução. A partir dessa análise
    reflexiva, os alunos são estimulados a uma nova síntese: a da elaboração dos
    pontos essenciais que deverão ser estudados sobre o problema, para compreendêlo
    mais profundamente e encontrar formas de interferir na realidade para
    solucioná-lo ou desencadear passos nessa direção. Podem ser listados alguns
    tópicos a estudar, perguntas a responder ou outras formas. São esses pontos -
    chaves que serão desenvolvidos na próxima etapa.
    A terceira etapa é a
    da teorização. Esta é a
    etapa do estudo, da
    investigação
    propriamente dita. Os
    alunos se organizam
    tecnicamente para buscar
    as informações que
    necessitam sobre o
    problema, onde quer que
    elas se encontrem,
    dentro de cada ponto -
    chave já definido. Vão à biblioteca buscar livros, revistas especializadas, pesquisas
    já realizadas, jornais, atas de congressos etc.; vão consultar especialistas sobre o
    assunto; vão observar o fenômeno ocorrendo; aplicam questionários para obter
    informações de várias ordens (quantitativas ou qualitativas); assistem palestras e
    aulas quando oportunas etc..
    T.S., 1990
    144 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    As informações obtidas são tratadas, analisadas e avaliadas quanto a suas
    contribuições para resolver o problema. Tudo isto é registrado, possibilitando
    algumas conclusões, que permitirão o desenvolvimento da etapa seguinte.
    A quarta etapa é a das hipóteses de solução. Todo o estudo realizado deverá
    fornecer elementos para os alunos, crítica e criativamente, elaborarem as
    possíveis soluções. O que precisa acontecer para que o problema seja
    solucionado? O que precisa ser providenciado? O que pode realmente ser feito?
    Nesta metodologia, as hipóteses são construídas após o estudo, como fruto
    da compreensão profunda que se obteve sobre o problema, investigando-o de
    todos os ângulos possíveis.
    A quinta e última etapa é a da Aplicação à Realidade. Esta etapa da
    Metodologia da Problematização ultrapassa o exercício intelectual , "pois as
    decisões tomadas deverão ser executadas ou encaminhadas. Nesse momento, o
    componente social e político está mais presente. A prática que corresponde a
    esta etapa implica num compromisso dos alunos com o seu meio. Do meio
    observaram os problemas e para o meio levarão uma resposta de seus estudos,
    visando transformá-lo em algum grau" (Berbel, 1996, p.8-9).
    Completa-se assim o Arco de Maguerez, com o sentido especial de levar os
    alunos a exercitarem a cadeia dialética de ação - reflexão - ação, ou dito de outra
    maneira, a relação prática - teoria - prática, tendo como ponto de partida e de
    chegada do processo de ensino e aprendizagem, a realidade social.
    Em síntese, a Metodologia da Problematização tem uma orientação geral
    como todo método, caminhando por etapas distintas e encadeadas a partir de
    um problema detectado na realidade. Constitui-se uma verdadeira metodologia,
    entendida como um conjunto de métodos, técnicas, procedimentos ou atividades
    intencionalmente selecionados e organizados em cada etapa, de acordo com a
    natureza do problema em estudo e as condições gerais dos participantes. Volta-se
    para a realização do propósito maior que é preparar o estudante/ser humano
    para tomar consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para transformálo,
    sempre para melhor, para um mundo e uma sociedade que permitam uma
    vida mais digna para o próprio homem.
    Com todo o processo, desde o observar atento da realidade e a discussão
    coletiva sobre os dados registrados, mas principalmente com a reflexão sobre as
    possíveis causas e determinantes do problema e depois com a elaboração de
    Fevereiro, 1998 145
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    hipóteses de solução e a intervenção direta na realidade social, tem-se como
    objetivo a mobilização do potencial social, político e ético dos alunos, que
    estudam cientificamente para agir politicamente, como cidadãos e profissionais
    em formação, como agentes sociais que participam da construção da história de
    seu tempo, mesmo que em pequena dimensão.
    Está presente, nesse processo, o exercício da praxis e a possibilidade de
    formação da consciência da praxis, como já buscamos demonstrar em texto
    anterior (Berbel, 1996, p.7-17).
    A Proposta Curricular de Aprendizagem Baseada
    em Problemas e algumas de suas características
    Conforme Sakai e Lima (1996), temos a seguinte apresentação sobre a
    Aprendizagem Baseada em Problemas:
    O PBL é o eixo principal do aprendizado teórico do currículo de
    algumas escolas de Medicina, cuja filosofia pedagógica é o
    aprendizado centrado no aluno. É baseado no estudo de
    problemas propostos com a finalidade de fazer com que o aluno
    estude determinados conteúdos. Embora não constitua a única
    prática pedagógica, predomina para o aprendizado de conteúdos
    cognitivos e integração de disciplinas. Esta metodologia é
    formativa à medida que estimula uma atitude ativa do aluno em
    busca do conhecimento e não meramente informativa como é o
    caso da prática pedagógica tradicional.
    Encontramos importantes referências sobre a Aprendizagem Baseada em
    Problemas na Home Page da UEL, 1997 (http://www.uel.br/uel/pbl/). Nesse
    material lemos que, a partir de definições importantes relacionadas às finalidades
    do currículo do curso,
    prepara-se um elenco de situações que o aluno deverá saber/
    dominar. Este elenco é analisado situação por situação para que se
    determine que conhecimentos o aluno deverá possuir para cada
    uma delas. Este elenco constitui os temas de estudo. (...) Cada
    tema será transformado em um problema para ser discutido em
    um grupo tutorial, quando se tratar de um tema que diga respeito
    à esfera cognitiva.
    146 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    A construção do problema, conforme orientações seguidas pela Faculdade de
    Medicina da Universidade de Maastricht-Holanda, deve:
    1. consistir de uma descrição neutra do fenômeno para o qual se
    deseja uma explicação no grupo tutorial; 2. ser formulado em
    termos concretos; 3.ser conciso; 4. ser isento de distrações; 5.
    dirigir o aprendizado a um número limitado de itens; 6. dirigir
    apenas a itens que possam ter alguma explicação baseada no
    conhecimento prévio dos alunos; 7. exigir não mais que em torno
    de 16 horas de estudo independente dos alunos para que seja
    completamente entendido de um ponto de vista científico
    (complementação e aperfeiçoamento do conhecimento prévio).
    (Sakai e Lima, 1996)
    Ao lado dos problemas, são organizadas situações para treinamento de
    habilidades psicomotoras, assim como estágios de várias complexidades,
    principalmente nos dois últimos anos - de internato. "A esfera cognitiva do
    Currículo PBL deve garantir que o aluno estude situações suficientes para se
    capacitar a procurar o conhecimento por si mesmo quando se deparar com
    uma situação problema ou um caso clínico".
    A Aprendizagem Baseada em Problemas tem o grupo tutorial como apoio para
    os estudos. O grupo tutorial é composto de um tutor e 8 a 10 alunos. Dentre os
    alunos, um será o coordenador e outro será o secretário, rodiziando de sessão a
    sessão, para que todos exerçam essas funções. No grupo, os alunos são apresentados
    a um problema pré elaborado pela comissão de elaboração de problemas.
    A discussão de um problema se desenrola em duas fases. Na
    primeira fase o problema é apresentado e os alunos formulam
    objetivos de aprendizado a partir da discussão do mesmo. Na
    segunda fase, após estudo individual realizado fora do grupo
    tutorial, os alunos rediscutem o problema à luz dos novos
    conhecimentos adquiridos. (http://www.uel.br/uel/pbl/)
    Nesse mesmo documento lemos que o método, no grupo tutorial, é seguido
    em sete passos:
    Fevereiro, 1998 147
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    1. Leitura do problema, identificação e esclarecimento de termos
    desconhecidos; 2. Identificação dos problemas propostos pelo
    enunciado; 3. Formulação de hipóteses explicativas para os
    problemas identificados no passo anterior (os alunos se utilizam
    nesta fase dos conhecimentos de que dispõem sobre o assunto); 4.
    Resumo das hipóteses; 5. Formulação dos objetivos de aprendizado
    ( trata-se da identificação do que o aluno deverá estudar para
    aprofundar os conhecimentos incompletos formulados nas
    hipóteses explicativas); 6. Estudo individual dos assuntos
    levantados nos objetivos de aprendizado; 7. Retorno ao grupo
    tutorial para rediscussão do problema frente aos novos
    conhecimentos adquiridos na fase de estudo anterior.
    Uma carga horária é prevista para o estudo de cada problema. O grupo deve
    organizar-se para cumprir os sete passos acima descritos dentro desse tempo-
    em geral umas quatro manhãs ou tardes, para poder passar para o problema
    seguinte.
    São várias as formas de avaliação possíveis dentro do currículo baseado em
    problemas. São previstas avaliações por módulos, avaliação progressiva dos
    conhecimentos dos alunos, avaliação das habilidades esperadas em cada série e
    avaliações informais, em que se observam as atitudes dos alunos. Com relação à
    avaliação realizada ao final de cada módulo temático, lê-se na Home Page da
    UEL (1997):
    ...tem por finalidade principal avaliar a qualidade do módulo. Um
    módulo temático deve levar os alunos a atingirem determinados
    objetivos de conhecimento. O núcleo central do módulo temático
    são os problemas desenvolvidos para a abordagem dos temas. Um
    bom problema deve ensejar uma boa discussão no grupo tutorial
    de modo que ao fim desta discussão os alunos elejam objetivos de
    aprendizado adequados ao conhecimento do tema em estudo.
    (http://www.uel.br/uel/pbl/)
    Não vamos esgotar aqui todas as características de um currículo baseado
    em problemas. Vamos acrescentando mais algumas no item a seguir, mas vale
    lembrar que para seu gerenciamento, várias comissões são necessárias, como a
    Comissão de Currículo, a Comissão de Avaliação, as Comissões Diretoras e
    outra que nos interessa ressaltar, a Comissão de Proposição de Problemas.
    148 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    Esta Comissão deve reunir um grupo habilitado na técnica de propor
    problemas adequados ao desenvolvimento dos temas elaborados pela
    Comissão de Currículo.
    Características comuns e diferenciadoras das duas propostas.
    Como percebemos pelo já descrito, temos aqui duas propostas metodológicas
    bem diferentes. A primeira, como uma metodologia que pode ser utilizada para o
    ensino de determinados temas de uma disciplina, nem sempre apropriada para
    todos os conteúdos; a segunda, como uma metodologia que passa a direcionar
    toda uma organização curricular.
    Dentro desta perspectiva, as duas propostas assumem dimensões distintas,
    porque a primeira é uma opção do professor e a segunda é uma opção de todo
    um corpo docente, administrativo e acadêmico, já que as conseqüências afetam a
    todos, durante todo o curso.
    Como decorrência da opção feita pela Aprendizagem Baseada em Problemas,
    definem-se porções de conteúdos, que serão tratados agora de modo integrado,
    definem-se modos de agir para ensinar, para aprender, para administrar, para
    apoiar, para organizar materiais ... Há necessidade de providências quanto à
    biblioteca, que deve ser suficientemente equipada e espaçosa, horários e
    organização de laboratórios, para as atividades opcionais, distribuição de temas
    versos tempo, etc. Enfim, definem-se novos papéis para serem desempenhados
    por todos os envolvidos. Todas essas características são bastante distintas dos
    moldes tradicionais de ensinar e aprender e da organização curricular a que a
    maioria quase absoluta das escolas estão acostumadas.
    A opção pela Metodologia da Problematização não requer grandes alterações
    materiais ou físicas na escola. As mudanças são mais na programação da
    Disciplina . Requer sim alterações na postura do professor e dos alunos para o
    tratamento reflexivo e crítico dos temas e na flexibilidade de local de estudo e
    aprendizagem, já que a realidade social é o ponto de partida e de chegada dos
    estudos pelo grupo de alunos.
    Os problemas constituem um dos pontos comuns das duas propostas, mas
    como já procuramos demonstrar antes (Berbel, 1994) e pelo acima descrito, fica
    Fevereiro, 1998 149
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    clara a abordagem distinta dos problemas pelos integrantes do processo de
    ensino-aprendizagem.
    Na Metodologia da Problematização, os problemas são identificados pelos
    alunos, pela observação da realidade, na qual as questões de estudo estão
    acontecendo. Observada de diferentes ângulos, a realidade manifesta-se para
    alunos e professores com suas características e contradições, nos fatos concretos
    e daí são extraídos os problemas. A realidade é problematizada pelos alunos. Não
    há restrições quanto aos aspectos incluídos na formulação dos problemas, já que
    são extraídos da realidade social, dinâmica e complexa.
    Na Aprendizagem Baseada em Problemas, os problemas são cuidadosamente
    elaborados por uma Comissão especialmente designada para esse fim. Deve haver
    tantos problemas quantos sejam os temas essenciais que os alunos devem
    estudar para cumprir o Currículo, sem os quais não poderão ser considerados
    aptos para exercer a profissão. E, como lemos em Sakai e Lima(1996), devem
    "consistir de uma descrição neutra do fenômeno em estudo , ser isento de
    distrações e ainda serem completamente entendidos de um ponto de vista
    científico" (grifos nossos).
    A Aprendizagem Baseada em Problemas tem uma seqüência de problemas a
    serem estudados. Ao término de um, inicia-se o estudo do outro. O conhecimento
    adquirido em cada tema é avaliado ao final de cada módulo, com base nos
    objetivos e nos conhecimentos científicos.
    Na Metodologia da Problematização, após o estudo de um problema poderão
    surgir outros, como desdobramentos do primeiro, só percebidos pelos alunos
    com o estudo aprofundado deste. Os conhecimentos científicos também são
    importantes e são buscados na etapa da teorização. No entanto, ao mesmo
    tempo são buscadas as percepções ou representações de pessoas que vivem o
    problema ou convivem com situações em que está presente, além de informações
    de outras fontes. Os diferentes tipos de saberes são conjugados pelos alunos
    enquanto constróem seus conhecimentos, que envolvem relações entre o técnicocientífico
    e o social, político, ético...
    Pela própria responsabilidade em garantir os conhecimentos mínimos
    exigidos pelo Currículo, na Aprendizagem Baseada em Problemas os objetivos
    cognitivos são todos previamente estabelecidos e os construídos pelos estudantes
    deverão coincidir com os dos especialistas do Currículo. Em caso contrário, os
    problemas devem ser substituídos para que se encontrem outros mais efetivos
    para provocar tais aprendizagens.
    150 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    Na Metodologia da Problematização não há controle total dos resultados em
    termos de conhecimentos. Eles são buscados para responder ao problema em
    estudo, este entendido amplamente, considerando-se suas possíveis causas e
    determinantes, que em geral ultrapassam os aspectos técnico-científicos. Os
    resultados não são de todo previstos, a não ser em termos da vivência das atividades
    pelo aluno em todas as etapas do processo. Os conteúdos tanto podem não
    satisfazer ao professor em termos do que gostaria de ver apreendido pelos alunos,
    quanto podem surpreender ao professor e ao próprio grupo quando descobrem
    aspectos e relações não previstos. Se ocorre o primeiro caso, o professor poderá /
    deverá providenciar outra
    forma e momento para
    suprir o essencial do
    programa não atingido
    naquele tema.
    Ambas incluem
    hipóteses a serem
    formuladas pelos alunos.
    Na Aprendizagem
    Baseada em Problemas,
    as hipóteses são
    elaboradas pelos alunos
    sobre as possíveis
    explicações do problema
    antes de seu estudo,
    como uma forma de estimulá-los a partir dos conhecimentos que já dispõem,
    pelas suas experiências anteriores.
    Na Metodologia da Problematização há um momento semelhante a este, mas
    aí os alunos analisam as possíveis causas e possíveis determinantes maiores do
    problema a estudar. As explicações não são somente relacionadas aos
    conhecimentos técnico-científicos. Este é um momento crítico de buscar captar
    relações sociais, políticas, econômicas... Também aí os alunos partem de seus
    conhecimentos prévios, que poderão ser comprovados ou reformulados pelo
    estudo na Teorização. As hipóteses, porém, são formuladas após o estudo,
    quando já contando com informações científicas, técnicas, legais, históricas,
    empíricas ou outras, formulam as hipóteses de solução, que orientarão a
    intervenção na realidade da qual se extraiu o problema.
    Fevereiro, 1998 151
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    Ambas as propostas incluem também o trabalho em grupo. Na Metodologia
    da Problematização, o grupo trabalha junto o tempo todo, com a supervisão de
    um professor. Em alguns momentos poderão distribuir tarefas, mas retornam
    sempre para o grupo, que vai construindo o conhecimento através das etapas do
    Arco. Na Aprendizagem Baseada em Problemas, o grupo inicia junto o
    conhecimento e discussão do problema e retorna depois para a rediscussão no
    grupo tutorial, quando os estudos individuais já foram feitos. Professores
    especialistas podem ser consultados durante o estudo.
    Na Metodologia da Problematização, os estudos ocorrem na etapa da
    Teorização, quando se buscam as informações sobre os pontos-chave, onde quer
    que elas se encontrem, contando para isso com o uso de técnicas e instrumentos
    de coleta de dados usuais na pesquisa científica, mas podendo utilizar também
    recursos não convencionais, como depoimentos escritos, orais etc., quando
    significativos para compreensão do problema.
    Na Aprendizagem Baseada em Problemas, o estudo se dá essencialmente na
    biblioteca, quando os alunos buscam atingir os objetivos cognitivos que
    elaboraram para alcançar, a partir dos problemas.
    Deste modo, é possível entender que a Aprendizagem Baseada em Problemas
    lança mão do conhecimento já elaborado para aprender a pensar e raciocinar
    sobre ele e com ele formular soluções para os problemas de estudo. A
    Metodologia da Problematização, além disso, é um desafio para a construção de
    novos conhecimentos, pela aproximação da realidade em que o tema em estudo é
    vivido por diferentes atores sociais.
    Há também uma grande diferença quanto ao uso dos resultados dos estudos.
    Na Aprendizagem Baseada em Problemas, os conhecimentos serão utilizados para
    resolver os problemas como exercício intelectual e nas práticas de laboratório e/
    ou com pacientes.
    Segundo Thomson (1996,p.7), além dos objetivos cognitivos "é dada muita
    importância à aquisição de habilidades, através de aprendizagem em modelos,
    pacientes simulados, observação intensa do que é normal e também a
    aprendizagem de habilidades dos estudantes com os estudantes".
    Para a resolução dos problemas, no entanto, o estudo individual é importante
    para a retenção dos conhecimentos. Após o estudo individual pelos alunos, esses
    resultados são apresentados e discutidos no grupo tutorial, a partir do que
    estarão preparados para serem avaliados no final do módulo. Inicia-se, então, o
    estudo de outro problema.
    152 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    Na Metodologia da Problematização os resultados deverão voltar-se para
    algum tipo de intervenção na realidade, na mesma realidade na qual foi
    observado o problema, imediatamente, dentro do nível possível de atuação
    permitido pelas condições gerais de aprendizagem, de envolvimento e de
    compromisso social do grupo.
    A etapa da Aplicação à Realidade é uma etapa prática e transformadora. O
    grau de intervenção depende de vários fatores, mas alguma intervenção deve
    ocorrer ou então não será a Metodologia da Problematização, com os passos do
    Arco de Charles Maguerez.
    Percebe-se assim que tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada
    das duas propostas são diferentes e é possível que a explicação maior esteja em
    seus fundamentos teóricos.
    Vimos explicando e desenvolvendo a Metodologia da Problematização como
    uma alternativa metodológica que busca mediar a concepção Histórico-Crítica da
    Educação e o trabalho pedagógico do professor com seus alunos (Berbel, 1995 e
    1996). Encontramos para isso respaldo na Filosofia da Praxis (Adolfo Sanchez
    Vazquez) e na Pedagogia Libertadora/Problematizadora (Paulo Freire e outros),
    com inspiração nos princípios do Materialismo Histórico Dialético. A máxima
    ação-reflexão-ação transformadora é o eixo básico de orientação de todo o
    processo.
    A Aprendizagem Baseada em Problemas tem como inspiração os princípios da
    Escola Ativa, do Método Científico, de um Ensino Integrado e Integrador dos
    conteúdos, dos ciclos de estudo e das diferentes áreas envolvidas, em que os
    alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos à
    sua futura profissão.
    Por todas essas razões cremos ser possível afirmar que Problematização e
    Aprendizagem Baseada em Problemas não são apenas dois termos, mas dois
    caminhos diferentes de ensino e de formação profissional, com diferentes
    conseqüências.
    O Curso de Medicina da UEL implantará, em 1998, uma nova proposta
    curricular com a opção pela Aprendizagem Baseada em Problemas, para a
    organização dos primeiros quatro anos de formação.
    Paralelamente a essa inovação, para um curso que completa 30 anos em
    1997, a comissão responsável pela organização da proposta se lança também o
    Fevereiro, 1998 153
    A PROBLEMATIZAÇÃO E A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
    desafio de incluir como atividade curricular o Projeto Especial de Ensino (PEEPIN)
    que se desenvolve com alunos dos cinco cursos da área da saúde na UEL desde
    1992 e que se utiliza da Metodologia da Problematização para essa atividade
    acadêmica.
    Mesmo sendo dois caminhos, foram considerados compatíveis pela Comissão
    de desenvolvimento do novo currículo, por valorizarem a experiência com a
    Metodologia da Problematização como "adequada para o desenvolvimento da
    interação de professores e alunos no desempenho de atividades de ensino e
    pesquisa nos cenários de ensino comunitários e dos serviços de saúde"
    (Projeto... 1997, p.12).
    Esta abertura é sem dúvida nenhuma promissora. O entendimento profundo
    do potencial de cada uma dessas propostas provavelmente permitirá uma
    atuação docente criativa, crítica e também cada vez mais conscientemente
    política (no sentido da postura político-pedagógica).
    Por último, podemos reforçar que o conhecimento das características das
    duas propostas como as ensaiadas aqui, as já descritas em outros textos e muitas
    outras que podem ser descobertas com a experiência, não permitirá confundi-las,
    mas com certeza tomá-las como alternativas inspiradoras de um Ensino Superior
    inovador, que ultrapasse a insistente abordagem tradicional. Além disso, devemos
    considerar que
    "as verdaderas innovaciones serán el resultado de las
    características, necesidades e imaginación local de quienes las
    hagan... El cambio es parte del proceso educacional. Los métodos
    van mejorando y seguiremos aprendiendo".
    Venturelli, J.
    Referências bibliográficas
    BERBEL, N. A. N. Metodologia da Problematização no Ensino Superior e sua
    contribuição para o plano da praxis. Semina : v.17, n. esp., p.7-17, 1996.
    _____________. Metodologia da Problematização : uma alternativa metodológica
    apropriada para o Ensino Superior. Semina : Londrina, v. 16, n. 2, n esp., p.9-
    19, 1995.
    154 Interface - Comunic, Saúde, Educ 2
    NEUSI APARECIDA NAVAS BERBEL
    BORDENAVE, J. ; PEREIRA, A. Estratégias de ensino aprendizagem. 4. ed.,
    Petrópolis: Vozes, 1982.
    COMISSÃO de Desenvolvimento do Novo Currículo de Medicina. Problem Based
    Learning - Centro de Ciências da Saúde - UEL. 1997. [Online] Available: http://
    www.uel.br/uel/pbl/
    PROJETO do Novo Currículo do Curso de Medicina. 1998. Londrina: UEL. PROUNI,
    1997. 30 p.
    SAKAI, M. H.; LIMA, G.Z. PBL: uma visão geral do método. Olho Mágico, Londrina,
    v. 2, n. 5/6, n. esp., 1996.
    THOMSON, J.C. PBL - uma proposta pedagógica. Olho Mágico , Londrina, v. 2, n.
    3/4, 1996.
    VENTURELLI, J. Educación Médica y en Ciencias de la Salud; Inminencia y
    necesidad del cambio. [s.l.] : Facultad de Ciencias de la Salud, Universidad de
    Macmaster, (s.d.).
rubiobessa

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  • rubiobessa
     
    De acordo com Peter Drucker, "a inovação mais produtiva é um produto ou serviço diferente, criando um novo tipo de satisfação, ao invés de uma simples melhoria". Dessa forma, a inovação está associada à geração de valor econômico e é diferente da invenção, que tem um significado tipicamente tecnológico. A inovação não é restrita aos aspectos tecnológicos e econômicos. As inovações sociais e as inovações na forma de gerenciar uma empresa são tão relevantes quanto as econômicas. O senso de inovação de uma organização tem que possibilitar o abandono sistêmico do que já é antigo.

    Para Drucker, a inovação é a tarefa de dotar os recursos humanos e materiais de nova e maior capacidade de produzir riqueza. Inovação é a capacidade de uma empresa criar um consumidor. Inovação significa supor que todos os produtos, processos e mercados da empresa estão se tornando rapidamente obsoletos.
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